quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Era Uma Vez um Natal Livre

Pela janela, observo as luzes e os enfeites natalinos. Do alto dos prédios a paisagem é linda, mas olhando de perto é suja e deprimente. As ruas exalam o fédido odor do capitalismo e do abismo social. Tudo parece ser uma ilusão, mas não para mim.

Eu não espero luxo desta cidade, nem mesmo limpeza, ar-puro ou proteção. Quando vim para cá, estava em busca de algo que o dinheiro não pode comprar. E, ainda, não sabia que está disponível em qualquer lugar. Basta aprendermos a encontrar.

Estar às vésperas do natal sozinho, em um lugar onde não se conhece ninguém e pouco reconhece suas próprias origens, não é algo fácil. Mas quem disse que a vida é?

Não tenho grana sobrando para comprar um peru. Simplifico a minha Ceia com macarrão ao molho branco e queijo ralado, é o máximo que as minhas mais de sessenta horas semanais de labuta podem pagar.

Daqui onde estou não tenho o colo de mãe, conselho de pai e nem uma mesa farta para celebrar o Natal, mordomias que uma vida familiar pode proporcionar. Mas tenho algo que jamais teria sobrevivendo sobre o mesmo teto que os meus pais.

Não tenho culpa de quem eu sou, de onde vim e de toda a estrutura da sociedade. Mas sou responsável sobre as minhas escolhas, sendo elas acertadas ou errôneas. Jamais me arrependo do que faço, tudo serve como aprendizado.

Muitas coisas eu deixei para traz ao sair da minha cidade natal. Muitos amigos, sorrisos, amores, mordomias e parentes. Mas não troco nada disso pelo que já conquistei e o que ainda irei conquistar.

Nesta terra de oportunidades sou Livre. E esta liberdade tem um alto custo (financeiro, social e emocional). Mas ainda que, às vezes, este custo possa parecer alto demais. Ainda vale a pena pagá-lo.

Feliz Natal